AQUELES QUE NÓS SEREMOS UM DIA

Marcelo Veiga
WWW.TERCEIRAIDADE.TV
O que será dos novos jovens que ficarão velhos, o que está diferente na juventude de hoje em relação a que vivemos.
Muitas vezes encontro textos os quais não faria melhor, por isso reproduzo-os. Este é mais um publicado na Revista Algo Mais de Recife em Pernambuco, cujo autor blogueiro aborda o assunto do tema com extrema propriedade para nossos dias. Parabéns Lula Cardoso Ayres Filho.




JUVENTUDE TARDIA
Postado em www.revistaalgomais.com.br em 11/05/11

O desaparecimento dos colégios tradicionais como Nóbrega, Marista, Vera Cruz, Eucarístico, Regina Pacis, entre muitos outros, trouxe uma grande transformação na formação dos jovens aqui na nossa cidade, no Recife. A volúpia doentia dos antigos donos de cursinhos e de colégios PP (Pagou Passou), investindo a sua fúria comercial, incentivada pelos novos sistemas preguiçosos de seleção para as universidades, que davam força aos “bizús” em detrimento do verdadeiro conhecimento, acabaram com a formação intelectual da nossa juventude.
Há alguns anos atrás, você deixava seu curso secundário com um conhecimento básico hoje não alcançado pela grande maioria dos que têm curso superior. Com a terrível transformação da legislação educacional no pós-64, deu-se chance a se ter um segundo grau completo apenas com a realização de um exame supletivo. Às vezes supletivo de que? De dicas de provas dadas por pseudo-educadores, nada mais do que comerciantes de diplomas, ou de poucas noites perdidas em “revisões” daquilo que nunca estudaram?
Com o desaparecimento desses colégios tradicionais, intencionalmente ou não, morreu o sentido de grupo. As turmas que, no passado, geravam grupos de convivência consolidando amizades que duravam uma vida inteira, transformaram-se em aglomerados de alunos buscando, através dos pais, o “educandário” que oferecesse a melhor relação custo/benefício para se passar no vestibular.
A universidade, que deveria ser o começo da maturidade educacional de um jovem, já então preparado no segundo grau, para o início de um aprendizado profissional, passou a ser a libertação dos pais pela educação dos filhos.
Hoje, os pais se vangloriam, quando tanto, por colocarem seus filhos na Universidade, seja em qualquer curso, em qualquer Escola e de qualquer nível. As formaturas, que antes eram esperadas por uma vida, quando as mães, justificadamente orgulhosas, preparavam suas melhores roupas para colocar o anel nos dedos dos filhos, transformaram-se em festas de baladas, onde, na maioria das vezes, os pais não são nem convidados.
Isso fez com que diversos ciclos de formação fossem quebrados. O efeito de destruição é avassalador. Hoje, a maioria dos pais desses novos adolescentes são oriundos dessa geração desencontrada. Não existem parâmetros de definição do que seja necessário em termos de formação para enfrentar, no bom sentido, uma nova vida. O que é mais importante: uma sólida formação cultural, uma orientação para se enfrentar um mundo injusto e cruel ou uma preparação para se aproveitar do momento? Infelizmente essa última opção é a que vem prevalecendo.
Esse descontrole na formação cultural dos jovens vem deixando os mesmos à deriva, susceptíveis à submissão pelo ócio e pelo prazer momentâneo. As discussões de outrora, quando adolescentes a partir dos 13 anos se preocupavam com o destino do mundo, mesmo sem qualquer acesso midiático como o que hoje existe, o amor pela arte, principalmente música e cinema, transformaram-se em bate-papos superficiais em mesas de bar, onde o álcool e o fumo passaram a ser parâmetros do “bem viver”.
Felizmente, alguns jovens que passaram por esse caminho, sentem que a estrada é curta. Ela não tem continuidade, mas tem volta. Humildemente, os mais sábios, procuram retomar, até através de novos cursos acadêmicos, a bifurcação na vida por onde embarcaram num caminho incoerente, não por suas culpas, mas muito mais pela falta de formação.
Isso faz com que estejamos vivendo um momento de volta ao espírito da juventude. A pós-adolescência transferiu-se dos 18 para os 30 anos. Somente que a experiência vivida nessa época às vezes deixa marcas difíceis de serem superadas. Por outro lado, essa mesma experiência de vida, torna o novo caminho rumo à verdade sublime muito mais fácil.
Não tenhamos medo de sermos jovens. A juventude é o retrato da vontade e da força de fazer. Hoje, já beirando os 60 anos, sinto a mesma obstinação que tinha aos 15, quando com a minha turma do Nóbrega quebrávamos barreiras e tabus. Ao mesmo tempo que nos destacávamos como bons alunos, tanto que da nossa turma de 65 estudantes, 63 passaram no vestibular de engenharia, fazíamos nossas “farras” culturais nos fins-de-semana. Todos nós, daquela turma, de uma forma ou de outra fizemos história.
O mundo é movido pela força da juventude, composta por pessoas de todas as idades. A juventude, muito mais do que aparência física, é um estado de espírito. É a vontade de viver, é a vontade de produzir, é a vontade de, mesmo timidamente, melhorar a forma de convivência humana.
A juventude nunca é tardia.